A Fundação Estudar oferece um programa de bolsas, inclusive para quem vai estudar fora, há 33 anos. Ao longo desse período enfrentamos diversos desafios relacionados à atração dos nossos bolsistas, seja porque a maioria dos brasileiros sequer considera estudar fora, seja porque não acreditam que serão selecionados para uma bolsa competitiva.


O primeiro ponto é que o estudante médio não sabe que a oportunidade existe. Eles não sabem que o escritório internacional da universidade existe e, quando descobrem, tem dificuldade de entender como podem usar esse serviço. Então há um trabalho super importante de educar os estudantes universitários em relação às oportunidades que a universidade, pública ou privada, oferece e que eles são pertencentes a essa comunidade acadêmica. Esse é um trabalho que a Fundação Estudar faz. Fazemos eventos e produzimos materiais que ajudam os jovens a entenderem que podem - e devem - aproveitar essa oportunidade.


Superado esse desafio, começamos a entrar em questões mais específicas, porque muitos dos estudantes possuem baixa autoestima e, depois de conhecer o escritório internacional e saber que existem acordos e programas que ele poderia participar, não acreditam que essa oportunidade é adequada para o seu perfil. Aqui, a baixa autoestima fica muito mais clara em pessoas de baixa renda e negros, especialmente. Pelo motivo óbvio da dificuldade financeira, mas também por acharem que precisarão sempre falar um outro idioma e por não verem em si a qualidade acadêmica necessária.


As boas práticas que temos adotado para mitigar esses gargalos é trazer para a conversa alunos que estudaram fora e nos quais os estudantes possam se reconhecer. Em mais de 80% dos eventos de atração para nossas bolsas nós tínhamos pelo menos um bolsista relacionado ao público-alvo do evento. E fazemos eventos com frequência. Entendendo que a informação sobre estudar fora ainda não está massificada entre os alunos e temos muito espaço para expandir essa informação.


Ano passado fizemos encontros com alunos de 8 universidades públicas brasileiras, com um total de quase 4 mil inscritos nos eventos - para além dos eventos independentes que fazemos, abertos a toda a população. E ter um jovem da própria universidade falando sobre a sua decisão de estudar fora sempre traz mais engajamento e mais público para a conversa.


Durante a seleção, temos atenção redobrada quando as pessoas são de grupos sub representados, então em toda avaliação qualitativa do candidato nós temos um treinamento sobre vieses que ajuda a pessoa que vai participar da seleção a estar mais consciente das suas próprias tendências e como lidar com elas. Também promovemos rodas de conversa focadas nos candidatos desses grupos, focando nas dores específicas de cada um e como podemos ajudar. Aqui também contamos com a participação de um bolsista nosso que faça parte desse grupo.


A ideia é inspirar ações nas universidades, na busca por ampliar o acesso à informação sobre as oportunidades de estudar fora, com um foco especial nos grupos de diversidade, considerando que eles, de forma geral, tendem a acreditar menos ainda no seu potencial.

A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) por meio da Diretoria de Relações Internacionais (DRI) recebe anualmente alunos estrangeiros para cursarem mestrado e doutorado em seus programas de pós-graduação, oriundos de programas de mobilidade do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB). Ao longo dos dez últimos anos, a UEMS recebeu 22 alunos vindos principalmente, de países da América Latina, por meios de programas como Programa de Alianças para Educação e Capacitação (PAEC), Programa de Formação de Professores de Educação Superior para a América Latina e o Caribe (PROLAC) e Programa GCUB-Mob. Acolher esses estrangeiros na universidade é um dos desafios da internacionalização, não apenas no que concerne à integração linguística, cultural e acadêmica, mas sobretudo na construção de relações interpessoais que reflitam positivamente nos processos de formação mestral e doutoral. Deste modo, a DRI-UEMS como forma de recepcionar melhor seus alunos estrangeiros e proporcionar interação e pertencimento na instituição criou em 2023 a disciplina Internacionalização, Ambientação e Pertencimento. A disciplina, obrigatória para alunos estrangeiros e eletiva para os demais alunos da pós-graduação, foi organizada em três módulos, totalizando 30 horas, com aulas no formato online e com abordagem de metodologias ativas. O conteúdo programático tratou tópicos relacionados ao pertencimento, à ambientação no Brasil, no Mato Grosso do Sul e na UEMS, por meio de discussões e reflexões relacionadas à universidade e à cidade de permanência do aluno durante a realização de sua pós-graduação. Além disso, a disciplina proporcionou formação conceitual sobre internacionalização, com desdobramentos teóricos e práticos em torno da internacionalização em casa para que os discentes, sob a coordenação da DRI-UEMS, apresentassem um trabalho de conclusão com atividades de internacionalização em casa para executar durante sua estadia no Brasil. Os sete alunos estrangeiros, bolsistas da UEMS pelos programas de mobilidade do GCUB apresentaram projetos que estão sendo desenvolvidos desde o ano de 2023, tais como tardes culturais, clubes de conversação e minicursos. Os primeiros resultados dessa ação da DRI, que está vinculada à sua política de Política de Recepção e Acolhimento de Estrangeiros na Universidade, mostram que as ações estão sendo efetivas na integração dos alunos à comunidade acadêmica, além de promover a interculturalidade nas unidades universitárias e melhorar os indicadores de internacionalização da UEMS.

Inspired by the idea of internationalization of 'university extension', we present a pilot program resulting from a partnership between the Office of International Relations (SINTER) and the Prorectorate for Outreach and Extension (PROEX) of the Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Brazil), which focuses on the participation of international students in institutional extension projects. Contesting political discourses on the internationalization of higher education, the literature points out that the social dimension of internationalization has rarely been the focus of systemic thinking, conceptualization, or strategy in the broad agenda of this process (Brandenburg et al., 2020; Leal, 2020; Rosário, 2021; Leal; De Souza; Barreto Moraes, 2023). Furthermore, the internationalization of Brazilian higher education has been categorized as passive, not situated nor oriented to the needs of the Global South (Leal, Finardi & Abba, 2022), reinforcing the importance of internationalizing differently (Leal, 2020). As originally conceived in the Latin American context, university extension presents characteristics that potentially contribute to conceiving internationalization perspectives that are more supportive, cooperative, and distanced from hegemonic rationality. Thus, aiming to expand the interaction between internationalization and university extension and considering the contribution that international students can bring to UFSC extension projects, SINTER and PROEX created, at the end of 2022, the pilot program named 'Participation of Students in International Mobility in Extension Projects'. Between December 2022 and February 2023, they consulted the university extension community regarding the interest in providing vacancies for the voluntary participation of international students in extension projects under their coordination. Around 51 projects in different areas of knowledge expressed interest in welcoming international students. The coordinators of these projects provided a summary of the project objectives, the activities to be developed by the students, and the weekly workload available for participation, in addition to desired profiles, when applicable, such as the program or specific knowledge desired. Such information was compiled in the 'Extension Project Offer Catalog' for international students. In March 2023, the Pilot Program was presented at the Reception to the international community. Upon choosing the project of interest, international students are directed to communicate with the coordinators to define the activities to be developed and other specificities of participation, which is voluntary (without financial remuneration). By sharing the idea of the Program, our purpose is to provide insights into ways to include an international dimension in university extension and contribute to the emergence of new internationalization perspectives in Brazilian universities. Participation may allow international students to engage with Brazilian society, strengthen UFSC's social mission, and promote the Brazilian public university model internationally.

As Instituições de Ensino Superior (IES) têm se empenhado cada vez mais no cumprimento do seu papel social que é a manutenção da qualidade do ensino, pesquisa e extensão com vistas a formação mais igualitária, a diminuição das questões sócio-econômicas, e o maior desenvolvimento da sociedade. 
Nessa lógica, o desenvolvimento da internacionalização tem constituído uma importante ferramenta, dada a sua contribuição para a formação de profissionais mais preparados para os desafios e impactos da globalização na contemporaneidade. 
Deste modo, a inclusão tem se revelado um dos aspectos mais relevantes para o desenvolvimento  do processo da internacionalização das IES brasileiras e, ao mesmo tempo, tem sido considerada um dos principais desafios para gestores dada a complexidade para sua execução prática. Por esta razão, alguns trabalhos da literatura têm se debruçado sobre as perspectivas práticas para o desenvolvimento de estratégias de internacionalização mais inclusivas nos contextos brasileiro e internacional sob a ótica de diferentes perspectivas de contribuição.


No contexto internacional, importa destacar as  contribuições de Schende, Wit e Delaquil (2019) que evidenciam a relevância e amplitude da internacionalização mais inclusiva, salientando o seu papel nos contextos geopolítico e social, a exemplo, dos refugiados e da diáspora africana. Brandenburg et al (2019), por sua vez, contribuíram para aumentar ainda mais o senso de engajamento à internacionalização ao associarem o tema da internacionalização da educação superior ao desenvolvimento da sociedade. No cenário brasileiro, Pereira e Sehenem (2019) trazem à discussão a questão dos deficientes auditivos, e Silva (2021) realizou uma avaliação institucional na perspectiva da internacionalização em casa.


Neste sentido, e na tentativa de contribuir para a discussão deste tópico num prisma distinto, a presente proposta traz à discussão a inclusão no desenvolvimento da  mobilidade acadêmica da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) no período de 2007 a 2022.  



Esta discussão será levada a cabo a partir da apresentação dos resultados do estudo que investigou a participação das mulheres e dos estudantes cotistas na mobilidade outgoing, e a cooperação sul-sul na mobilidade incoming, destacando a importância de estratégias de internacionalização com vistas a mitigar as desigualdades de oportunidades dentro da universidade e, por conseguinte, no próprio mercado de trabalho. 



PALAVRAS-CHAVE: internacionalização inclusiva; mobilidade internacional; mobilidade inteligente sul-sul.